sábado, 24 de novembro de 2012

Luís IX – São Luís

A dinastia Capetiana, também Capetíngia, foi a família real que governou a França durante mais de oitocentos anos. Deveu o seu nome ao apelido do fundador Duque de Francia, Hugo. Era conhecido como Capeto por causa da capa curta que sempre ostentava por ser abade secular em St. Martin de Tours. Como se tratava do mais importante guerreiro de Luís V de França, Hugo conseguiu fazer-se eleger rei quando da morte de Luís, em 987.

De acordo com a tradição, depois de Filipe I de França, os reis capetianos batizavam os seus primogénitos com o prenome do avô. Luís IX nasceu no castelo de Poissy, a 30 quilómetros de Paris, a 25 de abril de 1214 ou 1215. Foi o quinto filho de Luís VII de França e Branca de Castela, sendo o seu irmão Filipe o herdeiro da coroa, porém em 1218, Filipe morreu, passando assim, a ser o primeiro na linha sucessória ao trono.

O seu pai desempenhou um papel importante na sua educação, unindo o zelo pela religião à bravura marcial que lhe valeu o cognome de o Leão, subjugou os cátaros do sul da França, que era um movimento cristão, considerado herético pela Igreja Católica.

Particularmente cuidadosos da sua educação, os pais de Luís IX deram-lhe bons preceptores: Mateus II de Montmorency, Guilherme des Barres, conde de Rochefort, e Clemente de Metz, marechal da França, inspiraram-lhe os sentimentos de um rei cristianíssimo e filho da Igreja.

Com a morte de Luís VIII em 8 de novembro de 1226, Luís IX subiu ao trono aos 12 anos de idade. Foi sagrado na catedral de Notre Dame de Reims  por Jacques de Bazoches, bispo e Soissons, em 30 de novembro do mesmo ano.

Por testamento de Luís VIII, a mãe do jovem monarca, Branca de Castela, assumiu a regência de França com o título de “baillistre, guardião da tutela do rei. Bartolomeu de Roy, o velho camareiro da corte havia vinte anos, era o mais influente conselheiro do reino, pelo que se disse na época que o poder passava assim “entre as mãos de uma criança, de uma mulher e de um velho”.

Durante esse período, a rainha mãe enfrentou as ambições da Inglaterra e as pressões da nobreza do reino, que desejavam valer-se da pouca idade do soberano para retomar os direitos perdidos para os monarcas do último século.

O reino entrou em um período conturbado, com a revolta organizada por Filipe Hurepel, tio do jovem rei e filho legitimado de Filipe Augusto, pela casa de Dreux e pelo duque Pedro Mauclerc da Bretanha. Depois de sufocar a rebelião, a regente concluiu a conquista do Languedoc iniciada pelo seu esposo ao comprometer o conde Raimundo VII de Toulouse, casando a filha deste, Joana, com o seu filho Afonso. Acabava assim a Cruzada dos Albigenses.

Luís atingiu a maioridade a 25 de abril de 1234, mas continuou a manter a mãe numa posição de confiança e poder. Por outro lado os historiadores costumam definir o ano da sua maioridade como aquele em que Luís passou a governar mais tradicionalmente como rei, relegando a mãe para um papel mais de conselheira, se bem que continuou a ser uma poderosa força política até à sua morte em 1252.

Luís IX casou-se com Margarida da Provença em 27 de maio de 1234, na catedral de Sens, pouco depois de completar 20 anos. A esposa era a filha mais velha de Beatriz de Sabóia e do conde Raimundo Berengário IV da Provença e de Forcalquier, e irmã de Leonor, esposa de Henrique III da Inglaterra.

Na verdade com esta união pretendia-se agregar este condado ao reino da França, uma vez que Raimundo Berengário IV não tinha um herdeiro varão. Dizia-se que a graça e a natureza haviam dotado a sua esposa de toda sorte de perfeições, e de fato foi bem sucedida em prover a dinastia capetiana com herdeiros.

Luís IX também deu uma atenção especial à educação de seus filhos, principalmente a religiosa, ensinando-lhes orações, a necessidade de assistir à missa e de fazer penitência. Um fato que merece ser registrado é que conta-se, por exemplo, que às sextas-feiras não permitia que os filhos usassem qualquer ornamento na cabeça, por ter sido o dia da coroação de espinhos de Jesus Cristo.

Luís IX a partir de 1241  parece tomar mais encargos para si no governo do país. Fez do seu irmão Afonso conde de Poitiers  a fim de obrigar a nobreza local a lhe prestar homenagem. A rebelião de Hugo X de Lusignan permitiu-lhe estabelecer a autoridade real em uma curta campanha, de 28 de abril de 1241 a 7 de abril de 1243, e o mesmo tempo aproveitou a situação de vantagem até Quercy (aproximadamente o atual departamento de Lot) para expulsar da lá o rei Henrique III de Inglaterra, que decidira romper a trégua de 1238.

Resolveu velhas desavenças com Jaime I de Aragão assinando o Tratado de Corbeil, pelo qual o rei francês renunciava a hipotéticos e caducos direitos sobre Aragão, em troca da renúncia do monarca catalão-aragonês a direitos muito concretos sobre vastos territórios no sul da França. Para selar este tratado, Luís casou a sua filha Branca com o infante Fernando de La Cerda, príncipe herdeiro do reino de Castela, e Jaime I de Aragão casou a sua filha Isabel com o príncipe francês, o futuro rei Filipe III de França.

Designou inspetores gerais, que eram considerados funcionários públicos, criou a comissão judicial da cúria e instituiu uma comissão de fazenda e de inspeção de contas.

Proibiu aos juízes, oficiais e outros emissários seus enviados às províncias para ali exercerem justiça durante algum tempo, de adquirir bens e empregar os seus filhos. Nomeou, acima deles, juizes extraordinários para examinar a conduta dos primeiros e rever os seus julgamentos, funcionando como justiça de apelação. Para a pessoa do rei ficava reservado o papel de juiz supremo.

Segundo os historiadores, se Luís IX entendia que os seus oficiais tivessem agido mal, impunha em primeiro lugar uma severa penitência a si mesmo, como culpado pelo excesso praticado pelos seus representantes, e em seguida ministrava-lhes severa punição, obrigando-os a restituir o que haviam tomado do povo, se fosse esse o caso, ou a reparar aqueles que haviam sido condenados injustamente. Por outro lado, quando tomava conhecimento de que haviam cumprido dignamente os seus deveres, recompensava-os regiamente e os fazia ascender a funções mais honrosas.

Foi também o primeiro rei a proibir duelos, anteriormente tolerados e por vezes ordenados a fim de se conhecer o direito das partes.

Este reinado foi um período de paz e prosperidade para a França, mas também de extravagante zelo religioso e falta de habilidade em reconhecer e respeitar diferenças em crenças e opiniões, com a intenção de conduzir o povo francês à salvação da alma.

Luís IX não negligenciava o cuidado com os pobres, proibiu o jogo e a prostituição e punia a blasfémia. As punições estipuladas eram tão rigorosas que o papa Clemente IV julgou ser necessário atenuá-las.
                                           
A religiosidade deste rei pode mais uma vez ser comprovada no fato da aquisição da coroa de espinhos e de um fragmento da cruz, da crucificação do Messias – Jesus Cristo, em 1239-1241, a Balduíno II, monarca de Constantinopla, por 135.000 libras. Para estas relíquias mandou edificar a capela gótica de Sainte-Chapelle em Paris, que curiosamente só custou 60.000 libras para construir. Sob este reinado foram também construídas as catedrais de Amiens, Rouen, Beauvais, Auxerre e Saint-Germain-em-Laye.

Aproveitamos a oportunidade para lembrar que conforme os estudiosos, ao contrário do que se julga, comumente, a Coroa de Espinhos de Jesus não tinha a forma de um diadema, mas a de um barrete [espécie de touca], com 21 cm de diâmetro, cobrindo-Lhe toda a cabeça. Foi feita de ramos de longos espinhos trançados. Depois de colocá-la em Jesus, os algozes golpearam-na de modo a provocar grandes ferimentos, como pode ser atestado pelas manchas de sangue no “Santo Sudário”.

A Coroa permaneceu na Basílica do Monte Sião, em Jerusalém, até 1053, quando foi levada para Constantinopla. Em 1238, o Imperador Balduíno II entregou-a - juntamente com a ponta da lança de Longinus - como penhor de empréstimo contraído com bancos de Veneza. De comum acordo com esse Imperador, Luís IX, Rei de França, resgatou a referida dívida e recebeu em seu país as duas preciosas relíquias, com todas as demonstrações de veneração. O próprio rei, a rainha-mãe, inúmeros prelados e príncipes foram encontrá-los perto da cidade de Sens. Luís IX e seu irmão, Roberto d'Artois, descalços, as levaram até a Catedral de Santo Estevão, nessa cidade.

Atualmente, a Coroa de Espinhos está nos Tesouros da Catedral de Notre Dame de Paris.

Na Europa do século XIII existia um extremo fervor religioso e é nesse contexto que a aquisição das relíquias deve ser avaliada. Na verdade a posse destas contribuiu muito para reforçar a posição central do rei da França na cristandade ocidental, bem como para aumentar a fama de Paris, na época a maior cidade da Europa ocidental. As cidades e os governantes competiam pela posse de relíquias sagradas, Luís IX conseguiu colocar algumas das mais ambicionadas na sua capital.

O monarca francês era zeloso da sua missão de "lugar-tenente de Deus na Terra", da qual fora investido na sua coroação em Reims. De forma a cumprir este dever organizaria duas cruzadas e, apesar de ambas terem fracassado, contribuíram para o seu prestígio. Os seus contemporâneos não teriam compreendido se um rei tão poderoso e piedoso não fosse libertar a “Terra Santa”.

No século XIII  era generalizada a aversão pelos judeus por serem considerados culpados pela morte de Cristo. A sua primeira cruzada perseguiria a comunidade judaica. Tal como os seus antecessores, Luís IX tomou medidas discriminatórias e de perseguição contra os judeus, também com a intenção de convertê-los ao cristianismo.

Ordenou a expulsão de todos os judeus envolvidos em atividades de usura e assim pôde confiscar as riquezas destes para financiar os seus projetos. No entanto não eliminou as dívidas dos cristãos.

Acredita-se que a sob solicitação de judeus convertidos ao cristianismo, e que afirmavam que o Talmud, Livro Sagrado dos Judeus,  continha injúrias contra Jesus e a Maria de Nazaré ordenou em 1242 a queima dos exemplares deste livro religioso em Paris.

Em 1254 ordenou a expulsão dos judeus não convertidos da França, apropriando-se dos seus bens. No entanto, não foi feito um controlo muito eficaz para fazer cumprir esta medida, pelo que muitos permaneceram nos locais em que viviam. Alguns anos depois o rei anularia este decreto em troca de um pagamento, em prata, da comunidade judaica ao tesouro real.

Em 1269, em aplicação de uma recomendação do Quarto Concílio de Latrão de 1215, Luís IX impôs a obrigatoriedade dos judeus usarem sinais para serem diferenciados do resto da população e ajudar a impedir os casamentos mistos. Os homens a “rouelle” ou estrela amarela ao peito, e para as mulheres um chapéu especial.

Com estas atitudes, Luís IX tentava cumprir o que se encarava ser o dever da França, chamada de "a filha mais velha da Igreja" (la fille aînée de l'Église), com uma tradição de protetora da Igreja desde os tempos dos francos e de Carlos Magno, que fora coroado pelo papa em Roma no ano de 800.

O monarca caiu gravemente enfermo em 1244 a ponto de alguns terem como certa sua morte. Foram realizadas vigílias, procissões e outros atos religiosos pela sua convalescença. O próprio , Luís IX fez então uma promessa: caso sobrevivesse, partiria em cruzada para libertar o “Santo Sepulcro”.

A 12 de junho de 1248 Luís armou-se com a oriflamme, estandarte de guerra capetiano, na basílica de Saint-Denis. Acompanhado da rainha Margarida da Provença, e dos seus irmãos Carlos de Anjou e Roberto I de Artois partiu para Lião, onde se encontrou com o papa Inocêncio IV, de quem recebeu a benção apostólica, e em seguida para Aigues-Mortes, onde o aguardavam as embarcações que deveriam conduzir os cruzados ao Egito. Desta forma a Sétima Cruzada iniciou-se a 25 de agosto de 1248.

Luís IX enfrentou uma peste uma tempestade que reduziu sua tropa a menos da metade. A cidade portuária de Damieta (atual Dimyat) foi a primeira a ser tomada, em 8 de junho de 1249.

O exército dirigiu-se então para Cairo, mas sofreu ataques incessantes do emir Fakhr el-Din. Devido às condições de higiene e uma alimentação inadequada [ carência grave de vitamina C na dieta], os soldados foram acometidos de escorbuto e infecção do trato gastrintestinal sendo a causa de óbitos forçando o monarca a bater em retirada. Um traidor difundiu o boato de que Luís IX se rendera. A maior parte dos soldados rendeu-se e foi aprisionada, tal como o monarca. 

Durante o seu cativeiro, o rei encarregou Margarida da Provença de conduzir a cruzada. Em maio os cruzados foram libertados sob um avultado resgate pago pela Ordem do Templo.

De 1250 a 1253  conduziu a diplomacia dos cristãos com os poderes islâmicos da Síria e do Egito.

Em 1253 Branca de Castela, rainha regente, mãe do monarca morre obrigando  Luís IX a voltar ao reino. Os cruzados chegaram à França a 19 de julho de 1254. O seu regresso foi acolhido com manifestações de afeição do papa Clemente IV e de Henrique III da Inglaterra.

O século XIII ficou para a história  da França como "o século de ouro de São Luís". A França, centro das artes e da vida intelectual graças, entre outras, à Sorbonne, atingia o seu apogeu também aos níveis econômico e político. Luís IX comandou o maior exército e governou o mais poderoso reino da Europa.

A fama de santidade de justiça de Luís IX estava já formada durante a sua vida, por esta razão ele era regularmente escolhido como magistrado dos desacordos entre os grandes do velho continente. O prestígio e o respeito na Europa por Luís IX seria mais devido a estas qualidades que pelo poderio militar. Para os seus contemporâneos, foi considerado o melhor exemplo de um príncipe cristão, primus inter pares (o primeiro entre iguais). A 4 de dezembro 1259, em Paris, assinou o tratado de Albeville com Henrique III da Inglaterra, acabando assim a primeira fase da Guerra dos Cem Anos entre os dois países.


Como os estados cruzados do Levante estavam sendo frequentemente atacados, Luís IX decidiu lançar uma Oitava Cruzada, para a qual se compareceram os seus filhos e Eduardo I da Inglaterra, além de numerosos príncipes e senhores. Em 4 de julho de 1270 partiram em direção a Túnis, porém outra grande tempestade dispersou as embarcações e impediu muitas outras de partir.

O objetivo de Luís IX era converter o sultão de Túnis ao cristianismo para, aliados, atacarem o sultão do Egito. No entanto, depois da rápida conquista de Cartago pelos cruzados, este não permitiu sequer o desembarque da armada europeia. Iniciou-se um confronto, com os franceses importunando vários pontos nevrálgicos dos inimigos e a própria capital. Como esta resistisse, decidiram dominá-la cortando os abastecimentos.

Mas as doenças da cidade atingiram também o exército francês. Luís IX viu morrer seu filho João Tristão, nascido durante o seu cativeiro no Egito, e pouco depois morreria ele mesmo, a 25 de agosto de 1270, precisamente 22 anos após a sua partida para a Sétima Cruzada. Tradicionalmente tem sido aceito que ele fora vitimado pela peste bubônica, mas estudos recentes indicam a sua morte por infecção do trato gastrintestinal.

O corpo de Luís IX foi colocado sobre um leito de cinzas, em sinal de humildade, e os braços em cruz, à imagem de Jesus Cristo. O segundo dos seus filhos varões, Filipe III de França, foi o seu sucessor no trono.

O caráter e a personalidade de Luís IX pode ser avaliado através de uma carta testamento de sua autoria ao seu filho, a qual reproduzimos a seguir:

“Meu querido filho , minha primeira instrução é que você  ame o Senhor seu Deus com todo o seu coração e toda  a sua força.
Sem isso não há salvação. Mantenha-se longe de tudo que Deus não goste ou seja de qualquer pecado mortal. Permita-se ser atormentado por todo e qualquer martírio antes de você  cometer um pecado mortal. Se Senhor permitir que você seja testado, aceite com gratitude e com força de vontade, considerando que está acontecendo para o seu bem e talvez você venha de merecer. Se o Senhor tirar de você qualquer tipo de prosperidade agradeça-O humildemente e cuide para que você não se torne pior por causa disso, ou por  vaidade ou orgulho  ou qualquer outra coisa, porque você não pode se opor a Deus e nem questiona-LO  nos seus presentes e dons.  
Seja bom de coração e bondoso aos pobres, desafortunados e os aflitos. Dê a eles a maior  ajuda que puder e os console se conseguir.
Agradeça a Deus por todos as graças e  benefícios  que Ele der a  você, e faça  valer a pena receber maiores graças e benefícios futuros.
Sempre fique do lado  dos pobres e não dos ricos até ter certeza da verdade.   
Seja devoto e obediente a nossa mãe a Igreja de Roma e ao Supremo Pontífice como seu  pai espiritual.
Concluindo queridíssimo filho, eu dou a você todas as bênçãos de um pai que ama pode dar a um filho.
E que a Santíssima Trindade e todos os santos protejam você  de todos os demônios. E possa o Senhor dar a você a graça de ser servido e honrado  através de você e que na próxima vida nós possamos, juntos, vê-LO, ama-LO e louva-LO sem cessar.
Amen”.

São Luís foi canonizado pela Igreja Católica, no ano de 1297, pelo papa Bonifácio VIII, 27 anos após o seu desencarne.

E no plano espiritual? O que tem feito? Quais as suas contribuições para a evolução do nosso planeta?

Bom... a literatura espirita tem apontado São Luís como o guia espiritual da França, a exemplo citamos um trecho da resposta de Divaldo Pereira Franco, publicada no livro Aprendendo com Divaldo. Entrevistas / Divaldo Pereira Franco: São Gonçalo, RJ: Organizado pela SEJA, Editora e Distribuidora de Livros Espíritas, 2002, p. 69-74:

“Começa o século XIX e é programada a chegada de Allan Kardec. O grande missionário vai reencarnar na França, porque a mensagem de que é portador deverá enfrentar o cepticismo das Academias na Cidade-Luz da Europa e do mundo e, naquele momento, Cristo havia designado que o Espiritismo nasceria na França, mas seria transplantado para um país onde não houvesse carmas coletivos, e esse país, por enquanto, seria o Brasil.

“São Luís [Luís IX], o guia espiritual da França, cedeu que a terra gaulesa recebesse Allan Kardec, mas “negociou” com Ismael, o guia espiritual do Brasil: “Já que a mensagem de libertação vai ser levada para a Terra do Cruzeiro, a França pede que muitos Espíritos atribulados da Revolução [Francesa] reencarnem no Brasil, pois, se reencarnarem aqui [França] impedirão o processo da paz”. E dois milhões de franceses vieram reencarnar no Brasil, para que, quando chegasse a mensagem espírita, culturalmente se identificassem com o chamado
método cartesiano de Allan Kardec.”

A citação acima nos chama atenção que São Luís [Luís IX], cooperou com Cristo no planejamento e implantação do Espiritismo – a mensagem de libertação na Terra.

Afirma a literatura especializada que uma obra literária poderá, didaticamente, ser dividida em três partes: introdução, desenvolvimento e conclusão. As últimas palavras são de especial importância. Allan Kardec é inspirado a questionar na última pergunta do Livro dos Espíritos (1019): O reino do bem poderá um dia realizar-se na Terra?

 

Com certeza, o Espirito de Verdade, escolheu merecidamente São Luís [Luís IX] para responder:
  
 “O bem reinará na Terra quando, entre os Espíritos que a vêm habitar, os bons superarem os maus. Então eles farão reinar o amor e a justiça, que são a fonte do bem e da felicidade. É pelo progresso moral e pela prática das leis de Deus que o homem atrairá para a Terra os bons Espíritos e afastará os maus. Mas os maus só a deixarão quando o homem tiver banido daqui o orgulho e o egoísmo.

“A transformação da Humanidade foi predita e chegais a esse momento em que todos os homens progressistas estão se apressando. Ela se realizará pela encarnação de Espíritos melhores, que constituirão sobre a Terra uma nova geração. Então os Espíritos dos maus, que a morte ceifa diariamente, e todos os que tendem a deter a marcha das coisas serão excluídos, porque estariam deslocados entre os homens de bem, cuja felicidade perturbariam. Irão para mundos novos, menos adiantados, cumprir missões penosas, nas quais poderão trabalhar pelo seu próprio adiantamento ao mesmo tempo que trabalharão para o adiantamento de seus irmãos ainda mais atrasados. Não vedes nessa exclusão da Terra transformada a sublime figura do Paraíso Perdido? E no homem que veio à Terra em condições semelhantes, trazendo em si os germes de suas paixões e os traços de sua inferioridade primitiva, a figura não menos sublime do pecado original ? Considerado dessa maneira, o pecado original se refere à natureza ainda imperfeita do homem que só é responsável por si mesmo e por suas próprias faltas, e não pelas dos seus pais.

“Vós todos, homens de fé e de boa vontade, trabalhai, portanto, com zelo e com coragem na grande obra da regeneração, porque colhereis centuplicado o grão que tiverdes semeado. Infelizes dos que fecham os olhos à luz, pois preparam para si mesmos longos séculos de trevas e de decepções. Infelizes dos que colocam todas as suas alegrias nos bens deste mundo, porque sofrerão mais privações que os gozos que tenham tido. Infelizes sobretudo dos egoístas, porque não encontrarão ninguém para os ajudar a carregar o fardo das suas misérias”. (São Luís.)

Várias outras respostas são atribuídas ao espírito São Luís.

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, ele responde a questões que se encontram no cap. IV, itens 24 e 25; cap. V, itens 28 a 31; cap. X, itens 19 a 21; cap. XIII, item 20; cap. XVI, item 15, bem assim derrama a sua sabedoria em vários itens de O Livro dos Médiuns, lecionando conceitos acerca do "Laboratório do Mundo Invisível" e "Das manifestações físicas espontâneas".

Bibliografia


Aprendendo com Divaldo. Entrevistas / Divaldo Pereira Franco: São Gonçalo, RJ: Organizado pela SEJA, Editora e Distribuidora de Livros Espíritas, 2002, p. 69-74.

Enciclopédia Mirador Internacional, vol. 13, verbete: Luís IX.

Enciclopédia Delta Universal, vol. 9, verbete: Luís IX.

KARDEC, Allan. O livro dos espíritos, Rio de Janeiro, 1974.

KARDEC, Allan. O livro dos médiuns, Rio de Janeiro, 1986.

KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo, Rio de Janeiro, 1987.







domingo, 18 de novembro de 2012

Joana D’Arc


Afirmou Divaldo Franco, no Seminário “Em busca da Saúde e da Paz”, em 19 de janeiro de 2008, realizado na Creche Amélia Rodrigues e o Centro Espírita Bezerra de Menezes (Sto. André - SP), que o amor de Jesus é extraordinário.  Afiançou que Ele desceu ao plano inferior para resgatar Judas, que após reencarnar doze vezes, num período de 1.200 anos para se redimir reaparece no cenário terrestre como Joana d’Arc.

Segundo Léon Denis (Joana D’Arc Médium. Editora Feb, Brasília, 2008) Joana d’Arc, nasceu na França, no ano de 1412, no lugarejo de Domrémy. Na época a França se encontrava em meio a uma “desordem” política, social e econômica. O rei Carlos VI estava doente e, por suas ausências no governo, a competitividade entre a casa da França e a casa de Borgonha (também na França) aguçou-se.

Os conflitos civis e a desordem social estavam instalados na França, uma quase que total anarquia e permeada por motins e assassinatos. Assim, a Inglaterra, sob o comando do rei Henrique V, viu a chance de tomar o poder na França.

No ano de 1422, o rei Carlos VI, da França, e o rei inglês Henrique V, morreram.

Quando Carlos VI morreu, tanto Henrique VI (filho de Henrique V) de Inglaterra como o jovem Delfim Carlos foram proclamados reis de França; os seus apoiantes invocavam a instabilidade mental do seu pai como causa para a assinatura do tratado, declarando-o nulo e considerando o delfim o único legítimo soberano da França. Porém, cerca de dois terços do reino obedeciam ao rei inglês, entre os quais Reims, em cuja catedral os reis de França eram tradicionalmente coroados.

No momento em que a França estava sendo invadida pelos ingleses, surgiu  Joana D’Arc, insatisfeita com o governo britânico, assim como os camponeses e populares.

Joana D’Arc era filha de pobres lavradores, aprendeu a fiar a lã junto com sua mãe e guardava o rebanho de ovelhas. Teve três irmãos e uma irmã. Não aprendeu a ler, nem a escrever, pois cedo o trabalho lhe absorveu as horas. A aldeia era bastante afastada e os rumores da guerra demoravam a chegar.

Aos 12 anos começou a ter visões. Era um dia de verão, ao meio-dia. Joana orava no jardim próximo à sua casa, quando escutou uma voz que lhe dizia para ter confiança no Senhor. A figura que ela enxergou, identificou como sendo a do arcanjo São Miguel. As duas mensageiras espirituais que o acompanhavam , como Catarina e Margarida, santas conforme a Igreja que ela frequentava.

Eles lhe falam da condição do país e lhe revelam a missão. Ela deve ir em socorro do Delfim (Carlos VII) e coroá-lo rei de França. Durante 4 anos, ela hesitou e a história de suas visões começou a se espalhar.

Dessa maneira, Joana D’Arc partiu para a corte no dia 13 de fevereiro de 1429 e chegou ao Castelo de Chinon, residência do rei Carlos VII (filho de Carlos VI) no dia 23 de fevereiro. As primeiras palavras de Joana para o rei foram em relação à visão que havia tido.

O delfim não ignorava as aventuras extraconjugais da mãe, Isabeau de Bavière. Sempre a dúvida parece ter corroído sua personalidade, fragilizada pelo contexto político tão difícil. Nesse encontro Joana D’Arc discorreu sobre os vários pedidos que Carlos VII fizera a Deus, enquanto rezava sozinho na Igreja, foi desta forma que suas palavras tiveram credito para o rei. Após ser testada também por teólogos, Joana D’Arc recebeu do rei uma espada, um estandarte e o comando geral dos exércitos franceses.

Maurice Garçon (em Joana D’Arc. Uma santa em armas) afirma que Joana queria atacar a região de Orleans sob o comando dos ingleses, por isso enviou um aviso a eles: “A vós, ingleses, que não tendes nenhum direito neste Reino de França, o Rei dos Céus vos ordena, e manda, por mim, Joana, a Donzela, que deixeis vossas fortalezas e retorneis para vosso país, caso contrário farei grande barulho”.

A tropa francesa sob o comando de Joana conseguiu empreender conquistas em diversas batalhas. Na história essa disputa ficou conhecida como a Guerra dos Cem Anos (1337 – 1453), da qual a França saiu vitoriosa, conseguindo expulsar os ingleses, principalmente do norte da França.  

Parece ter vindo de Joana d'Arc o conforto ao rei de Bourges sobre sua situação filial, na entrevista de ambos em Chinon, dando-lhe um pouco de sua confiança.

Carlos VII, agora reconhecido legítimo rei da França foi coroado e consagrado em 17 de julho de 1429, na Catedral de Reims. A partir desse momento avisaram-lhe as vozes que cairia prisioneira e ela não se surpreendeu quando o fato ocorreu.

Graças aos sucessos de Joana d'Arc, Carlos VII muda de personalidade, de indolente e indeciso, torna-se enérgico e audacioso.

Na primavera de 1430, Joana retoma a campanha militar e tenta libertar a cidade de Compiègne, dominada pelos borgonheses, aliados dos ingleses.

Após a expulsão dos britânicos, os nobres franceses, representados pelo rei Carlos VII, temerosos de uma forte aliança popular entre Joana D’Arc e a população camponesa, entregaram-na para os ingleses. Os borguinhões, aliados da Inglaterra, negociam a virgem guerreira com os ingleses, obtendo em troca 10 mil libras.

É presa em 23 de maio do mesmo ano e entregue aos ingleses cujo objetivo era que ela fosse julgada pela Santa Inquisição, o mais elevado tribunal da Igreja na França.

O tribunal reuniu-se pela primeira vez em fevereiro de 1431, com a presença do Bispo, um partidário do Duque de Borgonha, aliado à Inglaterra. Manteve-se firme durante toda a farsa de seu julgamento, que demorou cinco meses, até sua condenação à fogueira.

Acusada de herege e feiticeira, depois de meses de julgamento é condenada a ser queimada viva, no dia 30 de maio de 1431. Seu cabelo foi raspado e, por temerem a reação do povo, 120 homens armados a escoltam até o local. Ela é atada a um poste e a fogueira é acesa.

Quando as chamas a envolvem e lhe mordem as carnes, ela exclama: "Sim, minhas vozes eram de Deus! Minhas vozes não me enganaram".

Era a prova inequívoca da mediunidade que lhe guiara a trajetória terrena.

Ela foi sustentada pelas vozes até o último instante, Joana d’Arc pronunciou na fogueira sua última palavra – Jesus!

Depois de 25 anos a Igreja reabre seu processo e Joana d'Arc é reabilitada de todas as acusações, torna-se a primeira heroína da nação francesa. No dia 16 de maio de 1920, 500 anos depois, o papa Bento XV a proclama “santa”. Hoje, Joana D'Arc é a Santa Padroeira da França.

No passado distante como Judas contemplou as cenas humilhantes e angustiosas do drama do Gólgota, naquele momento o remorso o abraçou, dilacerando lhe a consciência. Mas a fatalidade do Espirito é a sublimação, de traidor vil que entregou o Amigo querido, da forma mais ignominiosa, ele, assina como Joana D'Arc no capítulo XXXI de O livro dos médiuns,  Dissertações Espíritas, à de o número 12, onde ele se dirige aos médiuns, em especial, concitando-os ao exercício do mediunato:

“Deus me encarregou de desempenhar uma missão junto dos crentes a quem ele favorece com o mediumato. Quanto mais graça recebem eles do Altíssimo, mais perigos correm e tanto maiores são esses perigos, quando se originam dos favores mesmos que Deus lhes concede.

“As faculdades de que gozam os médiuns lhes granjeiam os elogios dos homens. As felicitações, as adulações, eis, para eles, o escolho. Rápido esquecem a anterior incapacidade que lhes devia estar sempre presente à lembrança. Fazem mais: o que só devem a Deus atribuem-no a seus próprios méritos. Que acontece então? Os bons Espíritos os abandonam, eles se tornam joguete dos maus e ficam sem bússola para se guiarem. Quanto mais capazes se tornam, mais impelidos são a se atribuírem um mérito que lhes não pertence, até que Deus os puna, afinal, retirando-lhes uma faculdade que, desde então, somente fatal lhes pode ser.

“Nunca me cansarei de recomendar-vos que vos confieis ao vosso anjo guardião, para que vos ajude a estar sempre em guarda contra o vosso mais cruel inimigo, que é o orgulho. Lembrai-vos bem, vós que tendes a ventura de ser intérpretes dos Espíritos para os homens, de que severamente punidos sereis, porque mais favorecidos fostes.

“Espero que esta comunicação produza frutos e desejo que ela possa ajudar os médiuns a se terem em guarda contra o escolho que os faria naufragar. Esse escolho, já o disse, é o orgulho”.

Joana dArc.


sábado, 17 de novembro de 2012

François de Salignac de la Mothe (Fénelon)


Sacerdote, escritor, orador, filósofo, teólogo e pedagogo francês nascido a 6 de agosto de 1651 no Château (Castelo) de Fénelon, em Périgord, hoje Dordogne, precursor dos grandes pensadores franceses do século XVIII. De descendência nobre, mas de pequeno patrimônio, estudou teologia no seminário de Saint-Sulpice, em Paris, onde foi ordenado (1676). Fénelon é o seu nome literário.

Assumiu a direção das Nouvelles Catholiques, instituição em que eram educadas as jovens protestantes convertidas ao catolicismo, realizou aí sua primeira experiência pedagógica importante, que relatou no Traité de l'éducation des filles (1687). Como gostava de fazer polêmica, sendo assim “polemista” por natureza, nessa obra criticou métodos pedagógicos da época e ressaltou a conveniência de preparar a mulher para o papel de futura esposa e mãe. 

O citado tratado da educação das jovens, obra dedicada às filhas do duque de Beauvillier, lhe valeu a nomeação (1689) como preceptor de Dauphin, o duque de Bourgogne, neto de Luís XIV, para quem escreveu várias obras educativas. Nos tempos de preceptor aderiu à prática do quietismo, doutrina pregada por Molinos, que propugnava a espiritualidade e a passividade total ante a busca do divino, o que o levou a um confronto com o poderoso bispo Jacques-Bénigne Bossuet. Nomeado aos 44 anos arcebispo da diocese de Cambrai (1695) publicou Explication des maximes des saints sur la vie intérieure (1697), livro em que defendia as teses de Mme. Guyon, estrela do movimento quietista, e que foi condenado pelo papa Clemente XI. 

A partir da publicação de sua obra Explicação das máximas dos santos, em 1697, passam a declinar as graças oficiais. Dois anos mais tarde, a Santa Sé condena a obra e ele é privado de seus títulos e pensões.

Luís XIV descobre críticas a seu governo no romance pedagógico de Fénelon “As aventuras de Telêmaco”, no ano de 1699, fato que muito desagradou o rei. Mesmo no exílio de sua diocese, ele não para de publicar. E no período de 1700 a 1712 publica Fábulas e Diálogos dos mortos, este último escrito para o duque de Bourgogne.

Deixa transparecer suas esperanças de uma reforma política em “O exame de consciência de um rei”, enquanto seu apego à Antiguidade clássica transparece em Cartas sobre as ocupações da Academia francesa.

Adversário político do absolutismo e conhecido por suas atitudes contestatórias que por vezes chocar-se com as autoridades eclesiásticas e com os donos do poder político na França do século XVII, nos últimos anos de vida, dedicou-se à análise literária e à exposição de suas ideias sobre a literatura e morreu em Cambrai em 7 de janeiro de 1715.

Fénelon é um vulto importante na Codificação, uma vez que foram várias as suas contribuições. Pode-se citar:
Em “O livro dos espíritos”, onde assina Prolegômenos, junto a São João Evangelista, Santo Agostinho, São Vicente, Sócrates, Platão, Franklin, Swedenborg e uma plêiade de luminares espirituais. É de sua especial responsabilidade a resposta à questão de nº 917.

Em “O evangelho segundo o espiritismo” apresenta-se em vários momentos, discursando acerca da terceira revelação e da revolução moral do homem (cap. I, 10); o homem de bem e os tormentos voluntários (cap. V, 22,23; a lei de amor (cap. XI, 9); o ódio (cap. XII, 10) e emprego da riqueza (cap. XVI, 13).

Em “O livro dos médiuns” figura no capítulo das Dissertações Espíritas (cap. XXXI, 2ª parte, itens XXI e XXII) desenvolvendo aspectos acerca de reuniões espíritas e a multiplicidade dos grupos espíritas.

Vale a pena lembrar que as citações acima são os que o espírito assina seu nome, devendo se considerar que devem, como os demais responsáveis espirituais pela Codificação ter estado presente em muitos outros momentos, dando seu especial contributo, eis que foi convidado pelo Espírito de Verdade a compor sua equipe, em tão nobre iniciativa.

Concluindo essas anotações lembrando a resposta de Fénelon (Espirito) a Allan Kardec, quando ele lhe questiona: Qual o meio de destruir-se o egoísmo?

“De todas as imperfeições humanas, o egoísmo é a mais difícil de desenraizar-se porque deriva da influência da matéria, influência de que o homem, ainda muito próximo de sua origem, não pôde libertar-se e para cujo entretenimento tudo concorre: suas leis, sua organização social, sua educação. O egoísmo se enfraquecerá à proporção que a vida moral for predominante sobre a vida material e, sobretudo, com a compreensão, que o Espiritismo vos faculta, do vosso estado futuro, real e não desfigurado por ficções alegóricas. Quando, bem compreendido, se houver identificado com os costumes e as crenças, o Espiritismo transformará os hábitos, os usos, as relações sociais. O egoísmo assenta na importância da personalidade. Ora, o Espiritismo, bem compreendido, repito, mostra as coisas de tão alto que o sentimento da personalidade desaparece, de certo modo, diante da imensidade. Destruindo essa importância, ou, pelo menos, reduzindo-a às suas legítimas proporções, ele necessariamente combate o egoísmo.

“O choque, que o homem experimenta, do egoísmo os outros é o que muitas vezes o faz egoísta, por sentir a necessidade de colocar-se na defensiva. Notando que os outros pensam em si próprios e não nele, ei-lo levado a ocupar-se consigo, mais do que com os outros. Sirva de base às instituições sociais, às relações legais de povo a povo e de homem a homem o princípio da caridade e da fraternidade e cada um pensará menos na sua pessoa, assim veja que outros nela pensam. Todos experimentarão a influência moralizadora do exemplo e do contacto. Em face do atual extravasamento de egoísmo, grande virtude é verdadeiramente necessária, para que alguém renuncie à sua personalidade em proveito dos outros, que, de ordinário, absolutamente lhe não agradecem. Principalmente para os que possuem essa virtude, é que o reino dos céus se acha aberto. A esses, sobretudo, é que está reservada a felicidade dos eleitos, pois em verdade vos digo que, no dia da justiça, será posto de lado e sofrerá pelo abandono, em que se há de ver, todo aquele que em si somente houver pensado.”

FÉNELON
O livro dos espíritos, questão 917




sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Judas Iscariotes


Ernest Renan (Vida de Jesus)  afirma que Judas era filho de Simão, procedente da cidade de Cariote ou Kerioth, "cidade do extremo sul da tribo de Judá, a uma jornada além do Hebron."  

Em Cafarnaum, Judas, comumente denominado, Judas Iscariotes, o que equivale a dizer, Judas, de Kerioth, sua localidade de nascimento, se consagrava ao pequeno comércio, vendendo peixes e quinquilharias.

Entendia de contabilidade, e se transformou no tesoureiro do grupo. Era quem cuidava da bolsa das ofertas. Quem lhe analise a personalidade, o qualifica como culto, eloqüente e polido. Também alegre e um homem realizado.

Destacam-se nele, igualmente, qualidades como discrição e sensatez. Com certeza, um homem prático. Sua cabeça era de um comerciante. Seu negócio era adquirir, revender e contar os lucros.

O Espírito Amélia Rodrigues, através da mediunidade de Divaldo Franco (Há flores no Caminho), descreve o Apostolo como “Imediatista, considerava as pessoas e ocorrências através da óptica distorcida da realidade, pelo valor relativo, amoedado, social, transitório, não real. (...)".

Divaldo Franco descrevendo a personalidade de Judas diz que ele tinha ambição, fascinação pelas riquezas, preocupações com a vida material e que ele não conseguiu apreender o sentido da missão do Grande Amigo.

Para Judas, o carpinteiro de Nazaré era o Messias, aguardado há séculos por Israel, sofrida e à época, escrava da águia romana dominadora. O poder de Jesus, Seus discursos, Sua inteligência e Seus milagres o fascinavam.

No Evangelho de João, capitulo 12, encontra-se uma referência à desonestidade de Judas: 
João 12:1 Veio, pois, Jesus seis dias antes da páscoa, a Betânia, onde estava Lázaro, a quem ele ressuscitara dentre os mortos.
João 12:2 Deram-lhe ali uma ceia; Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele.
João 12:3 Então Maria, tomando uma libra de bálsamo de nardo puro, de grande preço, ungiu os pés de Jesus, e os enxugou com os seus cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do bálsamo.
João 12:4 Mas Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, aquele que o havia de trair disse:
João 12:5 Por que não se vendeu este bálsamo por trezentos denários e não se deu aos pobres?
João 12:6 Ora, ele disse isto, não porque tivesse cuidado dos pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, subtraía o que nela se lançava.
João 12:7 Respondeu, pois Jesus: Deixa-a; para o dia da minha preparação para a sepultura o guardou;
João 12:8 porque os pobres sempre os tendes convosco; mas a mim nem sempre me tendes.

Segundo as lições espirituais de Irmão X, psicografado por Chico Xavier (Boa Nova) Jesus  teria advertido Judas, ao início do apostolado: "...Judas, a bolsa é pequenina; contudo, permita Deus que nunca sucumbas ao seu peso!"

A nobreza de Jesus, foi constada por Judas durante o tempo que O seguiu, desta forma passou a alimentar a idéia de que, dia chegará em que Jesus assumirá o poder, liderando uma grande revolução, esmagando Roma. Não conseguira entender que a maior revolução que o doce Rabi propunha era contra o inimigo interior.

Após a triunfal entrada de Jesus em Jerusalém, Judas imaginou que aquele era o melhor momento do Rabi iniciasse o Seu Reino.

Matéria publicada pela Federação Espírita do Paraná, no Jornal Mundo Espírita (abril/2004) registra que no “entanto, sequer sorrira Jesus, nem retribuíra com acenos ou um inflamado discurso à extraordinária recepção, que o povo lhe oferecia. Aquela maré humana entrou por um dos grandes portais da muralha do Templo e se derramou para o interior da extensa área do átrio dos gentios, ao átrio do povo e dos sacerdotes”.

Dando seguimento a descrição afirma que “quem ouvisse os brados de Hosana ao Filho de Davi! Hosana! acorria para ver quem seria a personagem que assim estaria sendo ovacionada. Quem seria alvo de tão deslumbrante manifestação?”

Os fariseus ficaram indignados e aumentando o ódio contra o Galileu. Os sacerdotes temeram perder o cargo e seus privilégios. Estabelecia, ali, a urgência da sentença de morte do Galileu – Jesus de Nazaré.

Judas aguardava que Jesus tomasse uma atitude, mas Ele simplesmente, como era de hábito, se retira da cidade, ao anoitecer e se dirige a Betânia, para  passar a noite.

Era evidente o descontentamento de Judas. Sob seu ponto de vista, Jesus não sabe aproveitar as oportunidades, nem se preocupa em conquistar a atenção dos homens mais altamente colocados na vida.

Gozando da amizade de políticos influentes em Jerusalém, Judas decide propor um acordo para apressar o triunfo do Messias. Arquiteta entregá-lO aos homens do poder temporal, "em troca de sua nomeação oficial para dirigir a atividade dos companheiros. Teria autoridade e privilégios políticos. Satisfaria às suas ambições, aparentemente justas, com o fim de organizar a vitória cristã no seio de seu povo.

Irmão X, em Boa nova, no capitulo 5, esclarece que era intenção de Judas depois de atingir o alto cargo com que contava, libertar “Jesus e lhe dirigiria os dons espirituais, de modo a utilizá-los para a conversão de seus amigos e protetores prestigiosos."

Quando a alvorada se fez, o discípulo imprevidente se dirigiu ao Sinédrio.

O Sanhedrin ou Sinédrio (pronuncia-se‎ Sanredrin) é o nome dado à associação de 23 juízes que a Lei judaica ordena existir em cada cidade. 

Esperou horas, mas muitas promessas lhe foram feitas. Guardou as 30 moedas, nem mesmo sabia porquê. Afinal, logo mais, ele teria as rédeas do movimento renovador. Era uma quantia pequena para o que idealizava. Nada além do preço de um escravo: trinta moedas de prata.

Com um beijo entrega o Amigo a quem amava, sem O compreender. Aterrorizado, viu seu Mestre ser conduzido à cruz, sem nenhum lamento, sem nenhuma queixa.

Caifás era o Sumo Sacerdote judaico, apontado pelos romanos para o cargo.

Dando-se conta do equívoco, busca Caifás, reclamando o cumprimento do acordo. Somente recebe dele e dos demais membros do Sinédrio sorrisos de sarcasmo. Recorre às suas relações de amizade e teve que reconhecer a fragilidade das promessas humanas.

De longe, Judas contemplou as cenas humilhantes e angustiosas do drama do Gólgota. O remorso o abraça, dilacerando-lhe a consciência.

Um pensamento o toma. Sem amigos, traidor vil que entrega o Amigo querido, da forma mais ignominiosa, ele somente pensa em desertar da vida. Naquele momento, não se recordou das exortações acerca da prece, da comunhão com o Pai, do perdão lecionado tantas vezes pelo Nazareno.

Ele somente escuta a voz tenebrosa de seu tremendo remorso e, dirigindo-se à rampa do vale de Hinom, compõe o laço em torno do pescoço e se deixa pender, vencido pela dor, ingressando no mundo espiritual, atormentado e sofredor.

Conta-se que, tendo devolvido aos sacerdotes o dinheiro vil, entenderam eles que aquele era "preço de sangue" e não seria lícito retorná-lo aos cofres do Templo. Assim, adquiriram um campo para servir de cemitério a estrangeiros e peregrinos que morressem em Jerusalém. O local ficou conhecido como "campo de sangue" e, segundo alguns, Judas teria sido o primeiro a ser ali sepultado.

Judas concede ao Espirito Humberto de Campos uma entrevista, a qual é descrita no livro Crônicas de Além-Túmulo, psicografado por Chico Xavier, no cap. 05, Judas Escariotes, em 19 de abril de 1935.

Na citada entrevista Humberto de Campos questiona:

- É uma verdade tudo quanto reza o Novo Testamento com respeito à sua personalidade na tragédia da condenação de Jesus?

Judas então responde:
- Em parte... Os escribas que redigiram os evangelhos não atenderam às circunstâncias e às tricas políticas que acima dos meus atos predominaram na nefanda crucificação. Pôncio Pilatos e o tetrarca da Galiléia, além dos seus interesses individuais na questão, tinham ainda a seu cargo salvaguardar os interesses do Estado romano, empenhado em satisfazer as aspirações religiosas dos anciãos judeus. Sempre a mesma história. O Sanedrim desejava o reino do céu pelejando por Jeová, a ferro e fogo; Roma queria o reino da Terra.
Jesus estava entre essas forças antagônicas com a sua pureza imaculada. Ora, eu era um dos apaixonados pelas idéias socialistas do Mestre, porém o meu excessivo zelo pela doutrina me fez sacrificar o seu fundador. Acima dos corações, eu via a política, única arma com a qual poderia triunfar e Jesus não obteria nenhuma vitória. Com as suas teorias nunca poderia conquistar as rédeas do poder já que, no seu manto de pobre, se sentia possuído de um santo horror à propriedade. Planejei então uma revolta surda como se projeta hoje em dia na Terra a queda de um chefe de Estado. O Mestre passaria a um plano secundário e eu arranjaria colaboradores para uma obra vasta e enérgica como a que fez mais tarde Constantino Primeiro, o Grande, depois de vencer Maxêncio às portas de Roma, o que aliás apenas serviu para desvirtuar o Cristianismo. Entregando, pois, o Mestre, a Caifás, não julguei que as coisas atingissem um fim tão lamentável e, ralado de remorsos, presumi que o suicídio era a única maneira de me redimir aos seus olhos. 

Dando seguimento a entrevista Humberto de Campos pergunta:

- E chegou a salvar-se pelo arrependimento?

- Não. Não consegui. O remorso é uma força preliminar para os trabalhos reparadores. Depois da minha morte trágica submergi-me em séculos de sofrimento expiatório da minha falta. Sofri horrores nas perseguições infligidas em Roma aos adeptos da doutrina de Jesus e as minhas provas culminaram em uma fogueira inquisitorial, onde imitando o Mestre, fui traído, vendido e usurpado. Vítima da felonia e da traição deixei na Terra os derradeiros
resquícios do meu crime, na Europa do século XV. Desde esse dia, em que me entreguei por amor do Cristo a todos os tormentos e infâmias que me aviltavam, com resignação e piedade pelos meus verdugos, fechei o ciclo das minhas dolorosas reencarnações na Terra, sentido na fronte o ósculo de perdão da minha própria consciência...

Asseverou Divaldo Pereira Franco, no Seminário “Em busca da Saúde e da Paz”, em 19 de janeiro de 2008, realizado na Creche Amélia Rodrigues e o Centro Espírita Bezerra de Menezes (Sto. André - SP), que o amor de Jesus é incomparável.  Afirmou que Ele desceu ao “inferno” (plano inferior) para resgatar Judas. Este (Judas) reencarnou doze vezes, num período de 1.200 anos para se redimir. Como Joana d’Arc alcança sua redenção, retomando a sua condição de apóstolo de Jesus.

Segundo Denis, Léon (Joana D’Arc Médium. Editora Feb, Brasília, 2008) Joana d’Arc, nasceu na vila de Domrémy-la-Pucelle (na França) no dia 6 de janeiro de 1412.
Dando seguimento a sua narrativa afiança que esta jovem destemida trilhou uma árdua jornada para propiciar a libertação da França e a coroação do delfim Carlos. Sua infância foi marcada pelo trabalho junto aos pais lavradores; cuidava do rebanho no Vale do Mosa e tecia a lã ao lado da mãe.

Além disso, estava sempre pronta para socorrer os necessitados. Seu conhecimento era o das realidades espirituais, pois da esfera intelectual ela nada sabia, uma vez que era analfabeta. Não deixava, portanto, de discorrer brilhantemente diante de seus acusadores.

Joana sempre foi muito religiosa, cultivando uma devoção especial por São Miguel, Santa Catarina e Santa Margarida, dos quais passaria a ouvir suas vozes, a partir dos 13 anos.

A França conquista seu primeiro triunfo em maio de 1429, restando a Joana propiciar a coroação do delfim, o que ocorre em julho de 1429, na Catedral de Notre-Dame de Reims. A inquieta Joana, porém, continua a seguir a orientação de suas vozes e, assim, vai para Paris, mas infelizmente fracassa, é presa, trancada na Fortaleza de Beaulieu, e depois conduzida para o Castelo de Beaurevoir.

Os borguinhões, aliados da Inglaterra, negociam a virgem guerreira com os ingleses, obtendo em troca 10 mil libras. Ela é então julgada neste reino, em 1430, sob a acusação de bruxaria, heresia, entre outros crimes de natureza religiosa. Presa durante seis meses, ao longo dos quais foi exaustivamente interrogada, ela foi queimada na fogueira da Inquisição, quando tinha ainda 19 anos.